Douglas começará os estudos nesta semana — Foto: Prefeitura de Florianópolis/ Divulgação
Venezuelano
em situação de rua aceito na UFSC manteve sonho de cursar geografia por 20
anos: 'Consegui'
Douglas José Ávila
Escalante, de 54 anos, foi aprovado pelo Processo Seletivo para Refugiados.
Aulas em Florianópolis começaram nesta semana.
Por Sofia Mayer, Paulo
Batistella e Edsoul, g1 SC e NSC
Atualizado
O imigrante venezuelano em
situação de rua em Florianópolis aprovado na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) teve a primeira aula no curso de Geografia na
quinta-feira (25). O calouro Douglas José Ávila Escalante,
de 54 anos, conta que a graduação era um sonho que mantinha há 20 anos.
Escalante
relata que a relação com a geografia remonta à infância dele, quando vivia na
periferia de Caracas, capital da Venezuela, mas costumava visitar familiares da
mãe em San Cristóbal, a 800 km de distância e já perto da Colômbia.
"A
gente sempre viajava. Então eu me via sempre naqueles dois cenários: um da
Capital e um outro do interior. Isso começou a me marcar, a querer saber mais
dos lugares", afirmou.
Ainda
assim, ele só se deu conta de que queria de fato cursar geografia perto dos 30
anos. Na época, no entanto, precisou seguir outro caminho.
Em 2015,
ele teve a oportunidade de vir ao Brasil para acompanhar um viajante
australiano para o qual havia trabalhado como guia turístico na Venezuela.
Escalante ficou em Manaus por dois anos e lá, entre trabalhos pontuais, se viu em situação de rua pela primeira vez no país. Depois
partiu para São Paulo em busca de melhores condições de vida.
Na
capital paulista, no entanto, ele esteve novamente em condição de rua, mas com
a situação agravada pela pandemia. Foi quando se deparou com um edital da UFSC
voltado para imigrantes e voltou a se questionar sobre o sonho de estudar.
"Eu
pensei: "Será que eu faço? Retomo uma ideia de 20 anos atrás?". E aí
passou pela minha cabeça um filme de tantas coisas que aconteceram",
refletiu.
Vida em SC
Escalante fez a inscrição para o
vestibular, estudou e se mudou para a Capital catarinense. Em Florianópolis, ele precisou novamente superar a falta de
moradia própria e se abrigou na Passarela da Cidadania, onde seguiu folheando
as apostilas.
Após a
aprovação no vestibular, se mudou para a Casa de Passagem do Centro, outro
abrigo da prefeitura, de onde deve ficar acolhido até conseguir vaga na moradia
estudantil da UFSC. Enquanto isso, ele seguirá contando com a ajuda da
Assistência Social.
"Algumas vezes, eu comentei com amigos e eles
falavam "você está doido, cara, como vai entrar em uma faculdade no
Brasil?". Aqui está a resposta: eu consegui", sorri.
Além dele, outros nove estudantes ingressam na UFSC no
segundo semestre de 2022 pelo Processo Seletivo para Refugiados.
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