A desativação das
ADRs e o xadrez político
Por Leonardo Secchi*
A decisão de desativação de 15 Agências de Desenvolvimento
Regional - ADRs tomada pelo governador Eduardo Pinho Moreira (MDB) foi acertada
e causou surpresa por ter vindo do MDB, partido que deu origem à política de
descentralização em 2003, com Luiz Henrique da Silveira.
O anúncio repercutiu bem para a maior parcela da sociedade
que viu a política de descentralização administrativa perder essência e
efetividade e se transformar em abrigo político. Por outro lado, a oposição ao
maior partido no Estado, leia-se PP e PSD, veem a medida como eleitoreira,
enquanto membros do próprio MDB perdem espaço e força nas suas bases
eleitorais.
É importante ressaltar que o plano de descentralização
administrativa é legítimo e uma tendência no mundo da administração pública
para o empoderamento local. No entanto, a história das regionais no Estado
mostra que as ADRs acabaram se transformando em cabide de emprego. Quando se cria
uma estrutura sem dar estrutura, ou seja, com pessoal qualificado e técnico,
acaba criando uma entidade só para colocar cargos comissionados. E, sabe-se,
que para melhorar a gestão pública é preciso mudar a lógica de cargos
comissionados para cargos de competência.
O gesto de Pinho Moreira sinaliza corte de gastos – 10% do
custo total das ADRS que é de R$400 milhões ou 0,2% do orçamento do Estado – e
impacta no contexto político e no xadrez eleitoral. De olho em outubro, o MDB
esquece a briga que comprou com o PSD de Colombo para manter as regionais e a
grande obra do seu maior líder, e neutraliza a maior crítica da oposição ao
partido. Ainda, admite que sua obra não está sendo eficaz e joga para a torcida
que há muito tempo cobra a extinção das regionais.
Outro ponto importante que contribuiu para o enfraquecimento
do projeto de descentralização foi a comprovação da sua ineficiência.
Segundo parecer de contas feito pelo TCE (Tribunal de Contas
do Estado) em 2011, as regionais demonstraram centralização de recursos,
com execução de apenas 4,82% do orçamento estadual e investimentos de 31,04%. O
TCE também elaborou auditorias anuais que apontaram custo alto e orientaram o
enxugamento das estruturas.
Estudo feito em 2013 por
economistas da UFSC e da UDESC reforçou a conclusão do TCE. A pesquisa analisou
os 10 anos de criação das SDRs (2003 a 2012) e constatou a redução da
concentração de recursos nas secretarias setoriais de 93% para apenas 84%, em
direção aos Poderes e não às regionais.
Embora o corte faça parte
das ações do governo e do xadrez político, o fato é que o Estado ainda terá 20
ADRs para emplacar a descentralização administrativa.
*Leonardo Secchi - professor de Administração Pública da UDESC, com
Doutorado em Ciências Políticas pela Universidade de Milão, Itália, e
Pós-Doutorado em Políticas Públicas pela Universidade de Wisconsin - Madison,
Estados Unidos.
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