terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Animal pré-histórico descoberto em São João do Polêsine é capa da revista 'Nature'.




Um animal pré-histórico encontrado em São João do Polêsine, na Região Central do RS, estampou a capa da revista científica Nature, em dezembro. O ixalerpeton polesinensis, como foi batizado o fóssil, viveu há cerca de 230 milhões de anos, e é tema do artigo "Enigmáticos precursores de dinossauros preenchem lacuna até a origem dos Pterosauros".


O animal é objeto de estudo de um grupo internacional de pesquisadores há cerca de dez anos, desde que foi encontrado no sítio Buriol, na cidade gaúcha. O professor e paleontólogo Sérgio Cabreira, da Associação Sul Brasileira de Paleontologia, é um dos autores da descoberta e assina o artigo, junto com especialistas de vários países, como Argentina e Estados Unidos.


Foi a primeira vez que um lagerpetídeo foi encontrado no Brasil, um tipo ainda raro de animal pré-histórico. Esses pequenos animais são os antepassados dos pterossauros, espécie de dinossauros que voavam. E também possuem semelhanças com os antepassados das aves.


Segundo Sérgio Cabreira, o ixalerpeton encontrado tem mais ou menos o mesmo tamanho de um quero-quero. Estava na mesma rocha em que os fósseis do buriolestes schutlzi, um dos precursores dos dinossauros, foram localizados.

Embora estivesse desarticulado, o fóssil do ixalerpeton estavam completos, diz o professor. "Partes do crânio, as mandíbulas, esqueleto da coluna, dos membros, muitas peças foram encontradas. Isso trouxe novas informações".


Com o material completo, o bom estado dos ossos e tecnologias de estudo, como uma ferramenta que possibilita a realização de imagens internas dos fósseis, foi possível aprofundar os conhecimentos no até então pouco conhecido grupo de animais.


O lagerpetídeo, por exemplo, possui o labirinto ósseo, que fica no ouvido, bastante desenvolvido, o que está ligado à capacidade de voar. O animal encontrado no RS não voava, mas fornece elementos para desvendar as origens dos pássaros.


"[o animal] Tinha um sistema de equilíbrio extremamente complexo, parecido com o sistema de equilíbrio dos pterossauros, que eram animais voadores. E muito parecido com o labirinto das aves", diz o professor.


Também foi possível observar que o lagerpetídeo tinha um metabolismo acelerado, o que é pré-requisito para a atividade do voo, que exige muita energia.


"Essas pré-adaptações são necessárias. Não tem como o animal se lançar ao espaço pra voar sem que previamente ele tenha adquirido condições", afirma.



Uma palavra em um livro

O ixalerpeton e buriolestes já foram citados em 113 artigos internacionais sobre paleontologia nos últimos anos, de acordo com o professor Sergio Cabreira. Isso mostra a importância da descoberta.


"Nós brasileiros também estamos participando dessa aventura que é a descoberta da origem desses grupos", afirma.


"Uma das coisas mais difíceis da paleontologia é nós encontrarmos os fósseis que deram origem aos grandes grupos de animais. Por exemplo, o ancestral dos mamíferos, das aves, dos dinossauros", diz.


"Quando surge um grupo novo na natureza, ele surge num momento único. Tu tem uma transformação total, o grupo surge pronto, e diferente do ancestral. O que acontece que os pterossauros é que a origem e o tempo em que eles surgiram era um ponto obscuro dentro da paleontologia de vertebrados", diz.


E mesmo importante, a descoberta não esgota o conhecimento dos animais e do período histórico, e levanta ainda muitas outras dúvidas.

"É uma parte muito pequena que existiu na face na terra. É uma palavra dentro de um livro", ressalta.


G1.



 

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