Com a
lei, é possível a redução de repasses por parte do governo federal e estadual,
num montante de R$ 17.352.458 ao ano
A
secretária municipal de Saúde, Rose Possato, recebeu em seu gabinete, na tarde
desta quarta-feira (4), a gerente de Atenção Básica da Secretaria de Estado da
Saúde - regiões da Serra e Meio-Oeste, a assistente social lageana Iraci
Batista Silva, com 31 anos de experiência na saúde pública do Estado e de ampla
visão sobre os prejuízos gerados com a emenda parlamentar modificativa da
Câmara de Vereadores, em que se reduz a jornada de trabalho de 40 horas para 30
horas semanais dos cargos de nível superior.
A medida
atinge os cargos de administrador, assistente social, biólogo, dentista,
enfermeiro, farmacêutico bioquímico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico,
psicólogo, terapeuta ocupacional, educador físico e nutricionista, em sua
maioria os de Programas de Saúde. Os artigos decorrentes das emendas
modificativas de autoria do vereador Juliano Polese haviam sido vetados pelo
poder Executivo por constituírem matéria de iniciativa do chefe do poder
Executivo, conforme preconiza a Lei Orgânica do Município e a Constituição da
República, que impede os vereadores de proporem tais alterações.
Contudo,
os vetos do Executivo foram rejeitados pelo poder Legislativo no dia 25 de
abril. Nesta quarta foram publicados parcialmente em jornal local de circulação
diária os Projetos de Lei Complementar 006 e 007/2016, transformados nas Leis
Complementares 471 e 472. Iraci classificou como “lamentável” a promulgação de
tal decisão por conta da interpretação atribuída sobre a legislação vigente,
pois, para ela, a legislação da política nacional de Atenção Básica diz que a
carga horária para todos os profissionais da área é de 40 horas semanais.
E entre as
perdas sofridas está a de recursos financeiros. O Município sofrerá penalidades
quanto ao repasse de 100% dos recursos do Ministério da Saúde (MS) para
serviços como Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Núcleo de Apoio à Saúde
da Família (Nasf), Programa de Melhoria da Qualidade de Acesso na Atenção
Básica (Pmaq), Estratégia Saúde da Família e Saúde Bucal. Portanto, é 0% do
repasse do Piso Variável da Atenção Básica (PAV) ao município de Lages do
cofinanciamento, segundo ela.
Com essa
decisão, o Estado não poderá repassar os recursos do cofinanciamento, que saem
do orçamento do próprio Estado, via Fundo Estadual de Saúde, pois a carga seria
diminuída. As diretrizes da Atenção Básica abordam o atendimento acolhedor, com
acesso, livre demanda e olhar especial sobre os usuários. Quem sai perdendo,
diz ela, é a população que depende total e exclusivamente do Sistema Único de
Saúde (SUS) com garantia de sua qualidade. “Não se pode ir contra a legislação
vigente. A decisão reflete negativamente para Lages e é, no mínimo, ilegal”,
salienta. Com a lei, é possível a redução de repasses por parte do governo
federal e estadual, num montante de R$ 17.352.458 ao ano.
Audiência
pública seria uma alternativa para discussão
A gerente
pontua que paralelamente aos malefícios de montante financeiro existe a perda
de acesso por parte da população. “Um dos critérios para implantação dos
serviços em saúde, regidos pela Política Nacional de Atenção Básica, consiste
nas 40 horas semanais”, aponta. O olhar crítico deve ser voltado ao atual
contexto local, estadual e nacional político e econômico. “A aprovação de uma
lei específica para 30 horas semanais reflete uma leitura muito frágil do
cenário. A questão deveria ter sido discutida muito bem com todos os
profissionais, levando em conta o usuário, incluindo a realização de audiência
pública. A redução da carga horária está atrelada a repasse de recursos
financeiros e isso pesa, grandemente, no dia a dia do cidadão”, reflete.
O contexto
de Lages, com todas as suas dificuldades socioeconômicas, deveria ter sido
melhor analisado e mais aprofundado antes das providências, conforme Iraci.
“Quando se corta ou bloqueia montantes de fontes nacional ou estadual, implica
em que o Município deverá investir muito mais recursos em saúde. A realidade de
dificuldades é semelhante nas 295 cidades de Santa Catarina. Qualquer variação
de recurso, para manter o SUS, é paga pelos municípios”, finaliza.
Legenda: A
gerente pontua que paralelamente aos malefícios de montante financeiro existe a
perda de acesso por parte da população (Foto: Marcio Avila)
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