A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia ouve nesta quarta-feira (5) o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, a partir das 10h. Ele é o segundo ex-ministro do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ouvido pelos senadores depois de Luiz Henrique Mandetta, que prestou depoimento por 7 horas na terça-feira (4).
O depoimento de Teich estava previsto para a terça-feira (4), às 14h. No entanto, o presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), adiou a oitiva em um dia após o também ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello alegar ter entrado em contato com dois servidores do Executivo que foram diagnosticados com Covid-19.
A oitiva com o médico oncologista começou por volta das 10h40, após ele fazer um breve resumo de seu período no governo federal e de a comissão homenagear as vítimas da pandemia.
Resumo da CPI da Pandemia:
Ex-ministro diz que não participou de decisões sobre cloroquina
Teich repetiu, reiteradamente, aos senadores que durante sua gestão no Ministério da Saúde não foram tomadas ações no sentido de produzir ou distribuir cloroquina aos estados para o tratamento de pacientes com Covid-19.
"Vou ser honesto, não participei disso. Se aconteceu alguma coisa, foi fora do meu conhecimento", disse, ao ser perguntado sobre uma declaração do presidente Bolsonaro, em 21 de março de 2020, de que o laboratório do Exército havia aumentado a produção do medicamento.
"Eu tinha uma posição muito clara não só em relação à cloroquina, mas a qualquer medicamento (...) Na verdade, o que acontece? O dia a dia era extremamente intenso. Faltavam respiradores, equipamento de proteção individual (EPIs), as mortes aumentando, os casos aumentando. Foi um assunto que não chegou a mim a produção de cloroquina."
Ele afirmou ainda considerar que a conduta de recomendar o medicamento era, do ponto de vista técnico, inadequada em razão da falta de estudos clínicos que atestassem sua segurança e eficácia para casos do novo coronavírus.
"Quando você faz um estudo clínico, e era isso que eu recomendava na época, as pessoas são monitoradas de perto (...) O problema de trazer o medicamento para uso ambulatorial para doença leve ou moderada é que a chance de ser extrapolado para prevenção é grande e cada vez você aumenta mais o espectro de pessoas expostas de forma não controlada e com risco. Um exemplo claro que fica disso é o uso de cloroquina com nebulização", disse Teich.
"Essencialmente, era a preocupação do uso indevido. Isso não vale só para cloroquina, vale para qualquer medicamento. Ali era mais uma discussão de condução do que do remédio especificamente."
Teich faz balanço de passagem curta pela pasta
Na abertura de sua oitiva, Teich fez um resumo de seu breve período à frente do Ministério da Saúde – ele ficou apenas 29 dias à frente da pasta.
Ele destacou que sob sua gestão foram iniciados projetos de testagem e de avaliação da questão do distanciamento e que também foi trazido ao Brasil o teste clínico da vacina de Oxford/AstraZeneca.
“No âmbito da vacinação, eu trouxe a vacina de Oxford, da AstraZeneca, para o Brasil por meio dos estudos clínicos. Comecei a abordagem com a empresa Moderna, fiz uma conversa inicial com a Janssen para iniciar a parte de estudos. Lamentavelmente minha passagem foi curta de modo que não pude dar dese volvimento a esses projetos”, disse o ex-ministro.
Ele ressaltou que os motivos de sua saída da pasta são públicas, mas se devem, basicamente, a constatação de que não teria autonomia e liderança que considerava indispensáveis ao exercício do cargo.
“Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto a eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento de Covid-19”, disse.
“Enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, de que naquele momento não era existia evidência da eficácia para liberar, existia um entendimento diferente por parte do presidente [Jair Bolsonaro], amparado na opinião de outros profissionais, até na opinião de outros profissionais do Conselho Federal de Medicina, que naquele momento, autorizou a extensão do uso.”
Homenagem a Paulo Gustavo e vítimas da Covid-19
A sessão foi iniciada com uma questão de ordem dos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), subscrita pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), para que fosse realizada homenagem ao ator e diretor Paulo Gustavo e também a todas as vítimas da pandemia.
"Queria fazer homenagem às centenas de milhares de pessoas que faleceram. Ontem tivemos a morte de um artista renomado, querido, e essa morte dá uma dimensão do que estamos vivendo", disse Costa.
"[Que] o impacto que o Brasil tem nesse momento, com a perda de um artista tão querido, inspire os trabalhos dessa comissão de inquérito", complementou Randolfe.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), determinou 1 minuto de silêncio em homenagem ao ator e as mais de 400 mil vítimas da Covid-19 no país. Ele relembrou também a morte do vocalista do grupo amazonense Carrapicho, Zezinho Correa, em decorrência de complicações da Covid-19.
Sessão terá análise de requerimentos
Ainda na terça, o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou em entrevista coletiva que, após os depoimentos de Teich, a comissão iniciará uma sessão administrativa para apreciar novos requerimentos.
Segundo Randolfe, devem ser analisados os pedidos de convocação do ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal, Fabio Wajngarten, dos ministros da Justiça e da Economia, Anderson Torres e Paulo Guedes, respectivamente, além de empresas farmacêuticas, como a Pfizer e a AstraZeneca.
CNN BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário