Símbolo da paisagem da Serra catarinense, a araucária, Araucaria angustifolia, é uma árvore de importância cultural, econômica e desempenha um papel ecológico para a fauna e a flora. Um estudo publicado por pesquisadores de universidades do Brasil, Argentina e Chile, mostra que eventos de frio extremo afetam o crescimento e podem representar uma ameaça climática para a espécie, que ocupa o penúltimo ponto da escala antes da extinção na natureza da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN em inglês).
"A araucária é uma espécie dominante na paisagem principalmente no planalto Sul brasileiro. É uma espécie que produz sementes alimentícias muito apreciadas pela fauna. Em razão disso, ela acaba sendo uma espécie-chave no aspecto ecológico para os animais. Sobre o aspecto da flora, ela se destaca por ser uma árvore dominante, caracterizando a aparência da vegetação, de grande porte, considerada uma das mais longevas, por isso nós estamos estudando essa espécie", explica o professor Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em árvores gigantes
A população de araucárias no estado é apenas uma pequena fração do que já foi na história, por conta da exploração madeireira e outras ocupações do solo. Atualmente, é proibido cortar essas árvores, mas outros fatores podem representar ameaças para a conservação das araucárias na Serra: os efeitos da ocorrência de acúmulos de neve associado com temperaturas abaixo de -5°C.
Perigos do frio
A partir de amostras de araucárias de um fragmento florestal, que fica em uma trilha ecológica no campus de Curitibanos da UFSC, no Oeste catarinense, os pesquisadores analisaram o crescimento das árvores por meio dos anéis da madeira e correlacionaram com variáveis climáticas, como precipitação, temperatura, geada e acúmulo históricos de neve.
"As árvores analisadas até o momento são jovens, com 20 a 70 anos. A pesquisa vai incluindo outras árvores velhas, conforme novos registros e coletas são realizados no Sul do Brasil. Datando e processando essas informações, estamos aumentando essa cronologia, deixando-a mais longeva. Assim teremos modelos precisos para estimativa de idade das últimas araucárias gigantes", explica Scipioni.
Sobre a pesquisa
O estudo é uma cronologia inicial vinculado a um projeto coordenado pelo professor Scipioni, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que visa identificar as idades das maiores araucárias no Sul do Brasil.
Nesta pesquisa, os estudiosos identificaram “anéis de geadas”, que são danos causados por congelamento do tecido.
O congelamento danifica as células na madeira, ficando o registro desse evento nos anéis de crescimento das árvores quando elas são jovens, entre os seus primeiros 10 anos de idade (veja infográfico abaixo).
Segundo o professor, a datação dos anéis de crescimento com o dano de geada foi identificada em eventos extremos de frio no passado, a exemplo do episódio de maior frio no estado, em 1957.
"Naquele ano, a região do Planalto catarinense teve neve com temperaturas abaixo de -5°C. A cidade de São Joaquim teve a maior nevasca da história, com mais de 1 metro de acúmulo de neve. Esse tipo de estudo pode buscar entender a história do clima no estado registrada nos anéis das árvores, bem como a frequência de eventos climáticos de frio extremo e verificar as mudanças climáticas no período", afirma Scipioni.
O crescimento das árvores está relacionado com as condições climáticas e ao local de crescimento, de acordo com o professor. "Árvores que crescem em climas extremos, frios e secos, tendem a apresentar anéis mais estreitos. Por outro lado, árvores em locais com precipitações mais favoráveis e maiores temperaturas, os anéis tendem a ser mais largos".
Segundo Scipioni, as araucárias são árvores que marcam anéis datáveis. "É uma espécie com formação de anéis anuais na madeira, que marcam essa questão da estacionalidade climática e são muito importantes para diversas pesquisas ambientais. Na dendrocronologia, que é o estudo do tempo com base nos anéis de crescimento, ele possibilita diversos tipos de estudos, datando vários eventos ambientais, como incêndios, desastres ambientais, avalanches, poluição ambiental, mudanças atmosféricas com análise de isótopos, entre outros", explica.
As variáveis climáticas foram testadas por meio de uma análise de correlação. "Os resultados indicam que a espécie apresenta sensibilidade significativa ao clima, com as temperaturas máxima e mínima absoluta na região de Curitibanos, respectivamente, correlacionada com taxas de crescimento positivas e negativas. Eventos de frio extremo com acúmulo de neve também reduziram o crescimento de A. angustifolia. No geral, eventos extremos de frio são ameaças à conservação da espécie, principalmente em árvores jovens, que têm a casca fina que não protege do congelamento, formando o dano por geada no tronco da árvore", explica.
G1SC
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