A 4ª Promotoria de Justiça de Criciúma, no Sul de Santa Catarina, pediu o arquivamento da ação que solicitou explicações aos órgãos de segurança pública do Estado sobre o assalto ao Banco do Brasil que ocorreu em 2020 na cidade. A manifestação pelo fim do procedimento foi feita em 21 de junho e será analisada pelo Conselho Superior do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).
O pedido de arquivamento, segundo o promotor Javel Teixeira, ocorreu pois o governo comprovou que as medidas recomendadas pelo MPSC estão sendo acatadas. Entre os pedidos estão a reposição do efetivo policial, aquisição de novas armas e maior integração entre as polícias (veja as mais abaixo).
O assalto, considerado o maior do estado, ocorreu entre a noite de 30 de novembro e madrugada de 1º de dezembro. O grupo utilizou no ataque armas de grosso calibre, foram feitos reféns e um policial militar foi baleado.
O procedimento preparatório do MPSC foi instaurado em 7 de dezembro. No documento, o órgão questionou as polícias Civil e Militar sobre a inexistência de um confronto com a quadrilha ou a tentativa de frustrar o crime. A promotoria quis saber também o porquê dos setores de inteligência do estado não terem sido capazes de prever a ação criminosa.
Como resposta, o Comando Geral da Polícia Militar afirmou que o planejamento de roubos dessa espécie se faz, em geral, com atuação de criminosos de vários estados e dificultam as ações da inteligência das forças estaduais.
Além disso, explicou que um eventual confronto armado na área central resultaria em danos colaterais, “com resultados de proporções trágicas e ainda mais violentas” para reféns, moradores e policiais.
“No roubo em questão, claramente a decisão da PM foi a mais segura, prezando pela proteção à vida das pessoas”, descreveu a PM.
Novo cangaço
Em resposta ao promotor, a Secretaria da Segurança Pública, Diretoria de Inteligência e Informação (DINI) e Gerência de Inteligência e Contra Inteligência (GINT) esclareceram que as peculiaridades do roubo realizado foram decorrentes da técnica conhecida como "novo cangaço".
O despacho do MPSC afirma também que a secretaria apresentou as diversas dificuldades do setor de segurança estadual de prever e combater a prática e indicou que os mentores da ação “teriam contratado algumas lideranças de organizações criminosas conhecidas do combate ao crime organizado deste estado”.
O promotor de Justiça, após as informações, afirmou que os órgãos trabalham para “resguardar e preservar a ordem pública, a incolumidade das pessoas e o patrimônio”, explicou.
Procurada pelo G1 SC, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) disse que não vai se manifestar sobre o pedido de arquivamento.
No despacho que tratou do arquivamento do procedimento, a promotoria destacou quatro recomendações que ou estão em andamento, ou já se concretizaram. Veja quais:
Reposição dos cargos vagos nas Polícias Civil e Militar no Estado, mediante a realização de concurso público, conforme Leis Complementares n. 318/2006 e 453/2009, que estabelecem diretrizes para formação do quadro de agentes dessas Instituições;
Nomeação dos aprovados para os cargos de Agente da Polícia Civil e Escrivão da Polícia Civil nos Concursos Públicos realizados em 2017 (Editais n. 001 e 002/SSP/DGPC/2017), certames estes válidos até dezembro de 2022
Aquisição de novas armas longas, coletes balísticos e veículos blindados para o combate ao crime organizado no Estado;
Adoção de práticas visando maior integração entre as polícias.
Segundo a Delegacia de Roubos e Antissequestro (DRAS/Deic), os assaltantes usaram os cilindros com maçaricos de alta pressão, do tipo lança térmica, para arrombar o cofre do banco do Brasil no dia do assalto. Cerca de R$ 125 milhões foram levados.
A Polícia Civil também investiga dois suspeitos de furtar do chão mais de R$ 2 milhões deixados por criminosos. As duas pessoas que teriam furtado o dinheiro do chão aparecem em imagens de câmeras de monitoramento na região.
Em fevereiro a Justiça autorizou 16 pedidos de prisão preventiva contra suspeitos de envolvimento no assalto. Esse grupo representa apenas uma parte da investigação sobre o roubo.
O que se sabe do assalto:
Cerca de 30 pessoas encapuzadas assaltaram uma agência do Banco do Brasil no Centro de Criciúma às 23h50 de 30 de novembro. A ação durou 1 hora e 45 minutos.
Pessoas foram feitas reféns e cercadas por criminosos; houve bloqueios e barreiras para conter a chegada da polícia.
Um PM ficou ferido e precisou passar por cirurgias.
Criminosos fugiram, e parte do dinheiro ficou espalhada pelas ruas.
Quatro moradores foram detidos após recolherem R$ 810 mil que ficaram jogados no chão devido à explosão durante o assalto.
Criminosos também deixaram 30 quilos de explosivos para trás. Polícia não sabe o total utilizado.
10 carros usados no assalto foram apreendidos em um milharal de uma propriedade privada em Nova Veneza, a noroeste de Criciúma.
A PM acredita, baseada em manchas de sangue encontradas nesses veículos, que pelo menos dois criminosos tenham se ferido.
Um galpão usado para a pintura desses veículos foi encontrado em 2 de dezembro. O local fica em Içara, cidade vizinha a Criciúma.
Em nota, o Banco do Brasil disse que funcionários não foram feridos e que não informa "valores subtraídos durante ataque às suas dependências".
Os criminosos levaram cerca de R$ 125 milhões.
13 pessoas suspeitas de envolvimento no assalto foram presas.
As autoridades de Santa Catarina afirmam que este foi o maior assalto da história do estado.
G1SC
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