O DILEMA DA ESQUERDA
Por Leonardo Secchi –
professor de Administração Pública da Udesc
A prisão e a consequente inexigibilidade do ex-presidente
Lula pela lei da Ficha Limpa tira o maior líder esquerdista do jogo político e obriga
o PT a lançar uma nova candidatura. O partido terá que escolher dentro do seu
quadro o melhor nome ou então fazer uma composição com as frentes de esquerda.
Pelo o que se observa no momento, o PT deve lançar o ex-prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad, ou então fazer uma aliança mais ampla com a esquerda, com Manuela
D´Avila do PCdoB, Guilherme Boulos do PSOL ou ainda Ciro Gomes do PDT.
O PT tem uma marca própria, tem um grande número de
seguidores e terá que fazer um exercício de humildade para não ser cabeça de
chapa nestas eleições. Se isso acontecer, a esquerda terá uma candidatura forte
e competitiva para chegar no segundo turno. Caso isso não aconteça, é possível
que haja uma diluição das forças e talvez nenhum candidato de esquerda chega ao
segundo turno, porque todos vão disputar os mesmos votos. Este é um grande
dilema que a esquerda tem.
XADREZ ELEITORAL
A saída de Lula do jogo também fortalece as frentes de
centro-esquerda, Ciro Gomes (PSD), Joaquim Barbosa (PSB) e Marina Silva (REDE)
que, embora não dá para enquadrá-la como centro-esquerda, tem origem no próprio
PT. Mas, em uma análise mais indireta, podemos afirmar que sobrará votos até
para Bolsonaro (PSL): os eleitores do PT são eleitores de perfil de liderança
e, por incrível que pareça, sem Lula, que exerce essa força e essa liderança, esses
eleitores buscarão um perfil semelhante e não votarão em um candidato morno,
como Geraldo Alckmin (PSDB) e Álvaro Dias (PODEMOS), por exemplo. Neste cenário,
Bolsonaro ganha força e pode conquistar mais votos.
Podemos esperar uma campanha com muitos candidatos e muita
disputa de votos, parecida com 1989. Aquele que conseguir um número um pouco
maior de votos vai para o segundo turno para referendar as eleições. No que se
desenha no momento, parece ser Bolsonaro (PSL) e mais alguém.
(PE)EMEDEBISMO
O PMDB tirou o P do nome e retornou a ser MDB, mas a sua velha
estratégia continua a mesma: apoiar algum candidato, de qualquer um dos partido
que, aproveitando os bons ventos da economia, consiga ganhar as próximas
eleições e assegurar sua eterna permanência junto ao poder. Como bem assinalam
os poucos estudiosos do “peemedebismo brasileiro”, ao MDB não interessa
disputar o cargo de síndico do condomínio Brasil quando é ele mesmo quem dá as
cartas e faz as leis em todo o conjunto habitacional... Não foi exatamente
assim, nas últimas décadas de governo no país?
Em 2018, a tese ganha reforço. Ao lançar sua
pré-candidatura, o presidente Michel Temer busca marcar espaço para negociar
com outras possíveis candidaturas. Esse é o perfil do (P)MDB, de colocar o
bloco na rua e recolher depois para apoiar uma candidatura mais viável. Isso
porque, Temer sabe que hoje não teria chance de eleição, com tamanha rejeição
assinalada pelas pesquisas.
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