De olho no placar: na
Copa e no STF
Por Leonardo Secchi – Professor de Administração Pública da Udesc
Em tempos de Copa do Mundo, temos
pela frente grandes emoções. E não é só no futebol. No Judiciário a bola também
continua rolando e o resultado de cada lance pode ser bem mais determinante
para o futuro político do Brasil do que um simples escorregão do escrete
canarinho. Na verdade, o nosso fundo do poço, em termos futebolísticos, o 7 a 1
da Alemanha, já deve ter ficado no passado, porém, na política, não dá para se
ter tanta certeza. Sempre pode piorar. Por isso, diante de possíveis glórias ou
dissabores nesses dois campos tão distintos, é bom ficarmos com um olho no
peixe e o outro no gato.
Duas votações liberadas para as
próximas semanas no Supremo Tribunal Federal podem provocar importantes
alterações nas estratégias dos partidos em vista das eleições de outubro. A
senadora Gleisi Hoffmann, que também é presidente nacional do Partido dos
Trabalhadores, enfrenta seu julgamento, juntamente com outros réus no STF. Já o
ex-presidente Lula, também do PT e ainda pré-candidato do partido às eleições
presidenciais, enfrenta o julgamento de mais um recurso na Segunda Turma do STF
que, em tese, poderá libertá-lo da prisão até que sua condenação pelo juiz Moro
e pelo TRF4 tenha transitado em julgado.
Estratégia eleitoral
O placar nas referidas votações
do STF, em princípio, pode provocar importantes alterações na estratégia do PT
em relação às eleições de 2018. O baque de uma possível condenação da senadora presidente
do PT, poderá ser compensado com a libertação momentânea de Lula, o que daria
novo alento à militância para entrar de corpo e alma na campanha. Contudo, dada
a grande probabilidade de Lula ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, ele deverá
pesar muito bem as alternativas, podendo ser convencido a indicar um candidato
substituto do PT bem antes do que desejava, sob pena de ver a candidatura de
centro-esquerda de Ciro Gomes avançar sobre o seu eleitorado de esquerda, cacifando-se
para o segundo turno das eleições e deixando o PT fora da partida antes mesmo
do apito final.
Conservadorismo
O temor tem fundamento. Na
opinião de muitos cientistas políticos, a sociedade brasileira vem fazendo
sensíveis movimentos de acomodação à direita, possibilitando o avanço de
candidaturas mais conservadoras em detrimento de posições tidas como mais
progressistas. Assim, enquanto nas últimas décadas a polarização das eleições
brasileiras se deu sempre entre as posições de esquerda contra as de
centro-direita, atualmente, devido ao movimento para a direita, a sociedade
estaria deslocando suas duas opções nitidamente para a centro-esquerda e a
direita propriamente, com Jair Bolsonaro (PSL) nesta última e Ciro Gomes (PDT)
ou Marina Silva (Rede) na outra.
Tudo pode acontecer
Resta saber, no entanto, se o
povo brasileiro vai para as urnas em outubro com algum traço de radicalismo, o
que possibilitaria a escolha de alguma das posições mais extremadas. Ainda há a
possibilidade de haver reviravoltas imprevisíveis e tudo pode acontecer. No
final da campanha, após a apresentação de cada candidato e de suas propostas,
pode até prevalecer uma solução mais conciliadora. Neste caso, candidaturas de
centro-direita como as de Geraldo Alkmin (PSDB) ou Álvaro Dias (PODE) poderiam
disputar um dos polos. A pacificação do país, numa disputa entre
centro-esquerda e centro-direita, seria, sem dúvida, uma possibilidade bem mais
factível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário