terça-feira, 26 de setembro de 2017

Soluções para resolver a violência contra professores são apontadas em audiência da Câmara


A violência contra profissionais do ensino nas instituições educacionais de Lages não pode mais ser tolerada, assim se resume a conclusão dos debates resultantes da audiência pública promovida pela Câmara Municipal sobre o tema e que contou com grande público no Plenário Nereu Ramos no dia 20 de setembro.
            Proponente da reunião, a presidente do Legislativo Lageano, Aida Hoffer (PSD) – que fez carreira como professora – desafiou os sindicatos da área a iniciar campanhas que fortaleçam esta discussão nos ambientes escolares e compilar dados que retratem como se encontra a situação em Lages. A vereadora sugeriu também a elaboração de um grupo de estudos com representantes da sociedade civil organizada para propor políticas públicas que resgatem o respeito ao professor.
“Precisamos levantar com credibilidade dados que estão presentes diuturnamente em nossas escolas e que possam subsidiar ações para inibir a violência nas escolas. (...) Terá de ser um esforço de cada um, desta Mesa onde todos têm um envolvimento com a educação, com os nobres colegas vereadores que firmam este compromisso. Esta Casa precisa unir esforços para encontrar e servir de apoio para que este trabalho inicie com mais força e mais veemência”, comentou Aida.

            Brasil lidera ranking de violência contra professores

Primeira a tomar a palavra na audiência, Aida Hoffer apresentou uma notícia onde um aluno do Sergipe perdeu na Justiça uma ação contra um professor que lhe tomou o celular na sala de aula, algo comum nas escolas, segundo a vereadora. “No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro herói nacional, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu ‘múnus’ com altivez de caráter e senso sacerdotal: o professor”, citou ela ao discurso do juiz Elieser Siqueira de Souza, responsável pela decisão.
Em seguida, Aida apresentou pesquisas recentes que colocam o Brasil como o 1º no mundo no ranking de violência contra professores. 44% dos docentes disseram ter sofrido algum tipo de agressão, sendo que 12,5% se disseram vítimas de agressão verbal ou intimidação pelos alunos ao menos uma vez por semana. “É necessário que toda sociedade se mobilize para mudar esta situação. (...) Nesta audiência damos o start pela mobilização para estancar estes índices absurdos e inaceitáveis. O professor merece o nosso respeito”, afirmou a presidente da Câmara.

Comunidade apoia ações que resgatem o respeito ao professor

O primeiro cidadão a se manifestar foi o vice-presidente do bairro Centenário, Élvio da Silva, que argumenta que tal panorama acontece pela falta de autoridade dos pais para com seus filhos. “Se não tem isso em casa, como vai ter diante da escola, com os professores. Quem sofre com isso não são só os professores, mas toda a sociedade”, disse.
Diretora da EMEB Isabel Rossetto, a professora Alexsandra Schlemper defendeu a necessidade da concepção de um regimento atuante a ser seguido pelas unidades de ensino em relação ao comportamento dos estudantes perante os educadores. “Precisamos abrir uma discussão aprofundada para que tenhamos nas escolas um amparo suficiente para que os regimentos aconteçam de forma efetiva. O ‘faz, acontece, e não dá nada’, não está dando nada além dos resultados que temos visto com a violência contra o professor”, argumentou.
Membro da Associação Amar Vidas, Nixon Airton de Oliveira ressalta que as escolas precisam se abrir à comunidade, para iniciativas que aproximem os pais do ambiente escolar e de seus filhos. Segundo ele, durante a realização do Projeto Vento nas Escolas, diversas crianças e pais diziam que queriam se matar, que estavam no jogo da Baleia Azul, tristes, sem perspectivas. “Hoje estes mesmos pais estão fazendo artesanato, se ocupando, podem ganhar dinheiro com isso. Algo precisa ser feito, precisa começar por esta Casa, por mim, por cada pessoa, mas precisa começar”, apontou Nixon.
Já o professor Aldemir Costa Pereira concordou com a fala da professora Alexsandra de que o município precisa de normas, de um regimento padrão a ser seguido já a partir de 2018, que ouça as demandas dos gestores e educadores. “Lages está no primeiro lugar no ranking contra mulher. Será que estes agressores de hoje não eram os alunos do passado que agrediam professores, física ou verbalmente? Precisamos de políticas públicas que comecem a mudança a partir de nossa consciência. Algo que nunca podemos deixar de prezar nas escolas é da nossa disciplina”, assegurou.
Professora e gestora Justina Inez Varela concorda com a criação de uma comissão envolvendo professores educadores, vereadores, sindicatos, etc, que resguardem a integridade dos professores. “Anseio por uma valorização do professor, não só enquanto seu salário, mas do ser humano professor, já que por suas mãos passam todos nós”.

Ações conjuntas da sociedade podem mudar esta realidade

“A sociedade está doente”, foi o termo reiteradamente repetido pela secretária municipal da Educação, Valdirene da Silva Vieira. Ela afirma que a violência quase inexiste na educação infantil, mas que pelo contato com uma sociedade violenta, as crianças acabam corrompidas. Segundo a secretária, o que acontece é uma terceirização da infância dos lares para as escolas. “Esta criança não tem o contato afetuoso com sua família, e sabemos que a criança necessita desta relação de afeto. Se ela não tem a referência da família, que afeto vai dar ao outro”, indaga Valdirene, que ressalta que a sociedade como um todo deve contribuir para a educação de uma nova geração mais ética e respeitosa.
Para o gerente regional de Educação, Humberto Aloizio de Oliveira, a criança é só um reflexo daquilo que os adultos vivem e reproduzem. “Os pais estão sem tempo, perdidos em relação à educação”. Para ele, a infantilização da culpa denota a falta de preparo dos adultos em lidar com a criança do século XXI. A solução, segundo o gerente, passa pelos bons exemplos do passado, como a insistência em educar, em uma norma, uma disciplina de respeitar os mais velhos e o professor.
Oliveira também acredita que nenhum segmento isolado vai solucionar esta questão, para ele, são necessárias articulações em rede. “Algumas escolas que conseguiram pôr em prática oficinas, cursos, palestras para os pais, professores e alunos participando nos seus núcleos de estudo, avançaram muito na redução dos índices de violência”, citou Oliveira, que destacou o exemplo da escola Pinto Sombra, que mudou todo um panorama daquela realidade após uma morte entre alunos, e que hoje apresenta um dos menores índices a partir do apoio de todos.
“Não há educação de qualidade e formação do cidadão se houver a quebra da disciplina e da autoridade do professor. Disciplina e autoridade que começa em casa, no berço familiar, sem respeito aos professores não há escola que funcione, que honre com sua finalidade”, defendeu a presidente do Simproel, Elaine Moraes. Ela ressalta que diálogo e tolerância são indissociáveis para alcançar este objetivo, além de união da classe para evitar a abertura daquilo que considera desnecessário como processos administrativos, boletins de ocorrência e a judicialização de pequenos problemas.
Presidente da Associação dos Auxiliares em Administração Escolar na Região Serrana, Sonia Carnevalli falou que o professor precisa de muito cuidado e carinho para lidar com as situações que enfrenta em sala de aula. Ela citou dados do Questionário Prova Brasil 2015, do qual quase metade dos professores ouvidos em Lages disse ter sofrido alguma espécie de violência.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação, Reno Vicente Athayde argumentou que a sociedade realmente se encontra em crise quando torna natural a imagem de crianças algemadas ou quando se utiliza mais violência para conter a violência, o que considera a instalação de um estado de barbárie. “Me preocupa quando o tom da maioria dos discursos se preocupa em punir e não incluir. Temos que pensar que sociedade estamos construindo”. Sobre os professores, ampliou a gama das violências contra eles, ao citar a precarização das escolas, a existência de classes distintas (efetivos/ACT’s), quando não se abre o diálogo ou se impõem políticas que fragilizam o trabalho educacional.
Com quase 50 anos de serviços prestados ao município na formação cidadã de pais, futuros pais e educadores, a Escola de Pais do Brasil, representado pela presidente Wilma Koerich, também se fez presente na discussão. Uma vez na semana, acontecem encontros onde se discute, orienta e concluem-se temas como os desafios da educação, o papel de pais e mães nesta construção, do nascimento à puberdade, à adolescência e à sexualidade. “Sempre estivemos ao lado de cada secretária de educação, oferecendo nossos serviços. Não só crianças devem ser educadas, mas seus pais também. Não vamos desanimar, vamos trabalhar juntos e vencer esta batalha”, comenta.

O desfecho da noite foi do historiador, mestre e especialista em bullying, Érico Paes de Campos diz que aquilo que o professor enfrenta é um reflexo da “geração de cristal”, com crianças mimadas e extremadas, que exigem uma recompensa para fazer até o que é mais básico. “A gente precisa discutir isso com a sociedade de modo geral, orientar os jovens sobre as responsabilidades de seus atos, da elaboração de regras claras nos regimentos internos, ‘o que vai acontecer se...’, a gente precisa saber disso e que isso seja efetuado. A gente precisa de atividades que promovam canais que criem uma rede, porque na educação ninguém trabalha sozinho”, aponta.



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