Foto: Taina Borges.
Dois jovens que moraram em uma casa de acolhimento institucional de Lages se reencontraram há pouco mais de seis meses. Agora, além dos laços de amizade, um é responsável pelo outro. J. (*) pediu e o juízo da Vara da Infância e Juventude da comarca de Lages o nomeou como curador. Mesmo mais novo, assumiu o encargo de cuidar e proteger, circunstância aliada aos vínculos existentes entre eles e ao fato de M. (*) não ter parentes em condições de se responsabilizar por ele.
A atitude chamou a atenção das assistentes sociais do Fórum. Foi durante uma conversa com elas que J. perguntou pelo companheiro de instituição. Ao saber da situação, se propôs imediatamente a convidar o amigo para morarem juntos de novo. "Explicamos quais seriam as responsabilidades e ele em nenhum momento hesitou. Demonstrou muita maturidade na decisão que foi de sua iniciativa. Não sei o que seria do M. se não fosse a generosidade de J. É muito provável que fosse novamente encaminhado para uma instituição de acolhimento", reflete Ana Maria Coelho, servidora há 40 anos e que até então não havia vivenciado algo assim.
A mãe de M. morreu quando ainda era muito pequeno. Filhos de pai alcoolista, ele e o irmão ficaram com a avó. Com a morte dela e do pai, foram para a casa de acolhimento de crianças e adolescentes. Quando desacolhido, ficou com irmão, que foi preso logo em seguida. Então, um primo assumiu a curatela, mas também se envolveu com o crime e está na prisão. Sem família, M. ficou sozinho e passou a frequentar o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua.
Fazia quase um ano que J. não tinha notícia dele. "Saber como estava me tocou bastante. No abrigo éramos irmãos e dividimos o quarto. Quando não queria seguir as normas da casa, eu o incentivava a cumpri-las e sempre me ouvia. Fizemos uma amizade muito bonita", revela.
Nesse tempo, eles já moraram com a mãe de J., foram para uma quitinete e agora vivem numa casa maior e mais confortável. Também viajam juntos. "Quando viu o mar pela primeira vez disse que tinham jogado sal na água. Foi um passeio muito emocionante. Faço o que posso para vê-lo feliz", conta. J. está noivo. "Ele nos pede a benção e, às vezes, nos chama de pai e mãe. É muito bonita essa demonstração de afeto".
O juiz da Vara da Infância e Juventude, Ricardo Alexandre Fiuza, explica que pessoas incapazes de exercer os atos da vida civil de forma independente necessitam de interdição, com a nomeação de um curador, com preferência legal de familiares para esta função. "Em alguns casos não existem familiares aptos para o exercício do encargo, motivo pelo qual pode ser nomeada pessoa idônea, tal como ocorreu neste caso, após parecer do serviço social forense".
Fonte : Taina Borges Forum de Lages
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