“Pega ladrão!!” O grito pode ser de um comerciante
assaltado, de uma família refém, de um idoso enganado, da atendente de loja
amarrada, de um policial armado, de um vizinho desprevenido, do eleitor
frustrado...
”Mata bandido!” A ordem pode vir da cadeia, da milícia, dos
policiais, da justiça, do pai de família, das mulheres da vida, do estudante
voraz. Vem da mãe que perdeu o filho, da vítima de estupro, do reacionário, da
cristã, do super-herói anônimo, do mediano, do socialista, do intelectual...
Se você tivesse que decidir, quem gostaria de ver preso?
Qual contraventor você acha que não mereceria continuar vivo? São perguntas fortes
e que impõem responsabilidade individual sobre o coletivo. O que faz de você a
pessoa certa para tomar essas decisões? Que poder é esse?
EXTREMOS
Essas são as perguntas que faço toda vez que me deparo com
discursos de ódio e discussões extremistas, especialmente em debates políticos.
Vejo o interesse individual se sobrepor ao coletivo. Vejo antipatia, falta de
humanidade, disputa de egos carregada de idealismos. E isso tudo fica muito
mais evidente quando o assunto são pautas polêmicas como as da segurança
pública que sempre voltam à tona em anos eleitorais: a liberação do porte de
arma, a redução da maioridade penal, a superlotação nos presídios, o combate ao
crime organizado, a descriminalização do aborto, a legalização das drogas.
CONVENIÊNCIA
Os que fumam maconha, por exemplo, vão buscar argumentos na
medicina para defender o uso, enquanto quem não fuma condena o ato como
criminal. A vítima do assalto à mão armada defende o porte de arma porque
acredita que tem o direito de defesa em pé de igualdade, algo descabível aos
que repudiam a violência como resposta à violência. Há os que defendem que a
mulher deve ter o direito de decidir o que faz com um fruto indesejado em seu
ventre, enquanto livrar-se dele não deve ser um direito para quem o vê como
atentado contra a vida. O comerciante assaltado por um menor é defensor da
redução da maioridade penal sob o argumento da responsabilidade pelos atos,
enquanto a mãe do jovem preso vê só a igualdade social como antídoto. São
pontos de vista embasados em experiências próprias e crenças adquiridas, que
nos fazem perguntar: quem vai decidir quais caminhos seguir?
MEDIDAS PROFUNDAS
A segurança pública é papel do Estado, da sociedade, por ser
um bem público e universal, garantidor de direitos iguais. O setor é a segunda
maior preocupação da população brasileira, atrás apenas do desemprego. Isso
porque, a violência, sob qualquer viés, mata. No Brasil, 170 pessoas são
assassinadas por dia. Há mais de 700 mil presos no país. São números que exigem
medidas de governo capazes de olhar a criminalidade além da solução imediatista
e individual, com maior profundidade e de forma paralela à educação. Tarefa
nada fácil para os cidadãos e também para o Estado, que tem escancarado sua
ausência e suas falhas.
UNIÃO DE FORÇAS
Vivemos em uma sociedade que ainda precisa mostrar ser capaz
de olhar para os lados, enxergar o outro, o todo, debater outras opiniões,
admitir o diferente, acolher o contraditório, pensar fora da sua pequena caixa
e unir forças.
Para sermos bons gestores, liderarmos a maioria, dentro de
um processo democrático que não discrimina a minoria, não podemos defender
projetos, ideias ou ações baseadas em interesses individuais. É preciso pensar
e agir coletivamente. Assim como, para sermos bons liderados, precisamos cobrar
o papel do Estado, ter assegurados nossos direitos e ainda acreditar na
democracia.
OPINIÃO
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