segunda-feira, 21 de maio de 2018

Segurança púbica, o discurso de ódio e o papel do Estado


“Pega ladrão!!” O grito pode ser de um comerciante assaltado, de uma família refém, de um idoso enganado, da atendente de loja amarrada, de um policial armado, de um vizinho desprevenido, do eleitor frustrado...
”Mata bandido!” A ordem pode vir da cadeia, da milícia, dos policiais, da justiça, do pai de família, das mulheres da vida, do estudante voraz. Vem da mãe que perdeu o filho, da vítima de estupro, do reacionário, da cristã, do super-herói anônimo, do mediano, do socialista, do intelectual...
Se você tivesse que decidir, quem gostaria de ver preso? Qual contraventor você acha que não mereceria continuar vivo? São perguntas fortes e que impõem responsabilidade individual sobre o coletivo. O que faz de você a pessoa certa para tomar essas decisões? Que poder é esse?
EXTREMOS
Essas são as perguntas que faço toda vez que me deparo com discursos de ódio e discussões extremistas, especialmente em debates políticos. Vejo o interesse individual se sobrepor ao coletivo. Vejo antipatia, falta de humanidade, disputa de egos carregada de idealismos. E isso tudo fica muito mais evidente quando o assunto são pautas polêmicas como as da segurança pública que sempre voltam à tona em anos eleitorais: a liberação do porte de arma, a redução da maioridade penal, a superlotação nos presídios, o combate ao crime organizado, a descriminalização do aborto, a legalização das drogas.
CONVENIÊNCIA
Os que fumam maconha, por exemplo, vão buscar argumentos na medicina para defender o uso, enquanto quem não fuma condena o ato como criminal. A vítima do assalto à mão armada defende o porte de arma porque acredita que tem o direito de defesa em pé de igualdade, algo descabível aos que repudiam a violência como resposta à violência. Há os que defendem que a mulher deve ter o direito de decidir o que faz com um fruto indesejado em seu ventre, enquanto livrar-se dele não deve ser um direito para quem o vê como atentado contra a vida. O comerciante assaltado por um menor é defensor da redução da maioridade penal sob o argumento da responsabilidade pelos atos, enquanto a mãe do jovem preso vê só a igualdade social como antídoto. São pontos de vista embasados em experiências próprias e crenças adquiridas, que nos fazem perguntar: quem vai decidir quais caminhos seguir?
MEDIDAS PROFUNDAS
A segurança pública é papel do Estado, da sociedade, por ser um bem público e universal, garantidor de direitos iguais. O setor é a segunda maior preocupação da população brasileira, atrás apenas do desemprego. Isso porque, a violência, sob qualquer viés, mata. No Brasil, 170 pessoas são assassinadas por dia. Há mais de 700 mil presos no país. São números que exigem medidas de governo capazes de olhar a criminalidade além da solução imediatista e individual, com maior profundidade e de forma paralela à educação. Tarefa nada fácil para os cidadãos e também para o Estado, que tem escancarado sua ausência e suas falhas.
UNIÃO DE FORÇAS
Vivemos em uma sociedade que ainda precisa mostrar ser capaz de olhar para os lados, enxergar o outro, o todo, debater outras opiniões, admitir o diferente, acolher o contraditório, pensar fora da sua pequena caixa e unir forças.
Para sermos bons gestores, liderarmos a maioria, dentro de um processo democrático que não discrimina a minoria, não podemos defender projetos, ideias ou ações baseadas em interesses individuais. É preciso pensar e agir coletivamente. Assim como, para sermos bons liderados, precisamos cobrar o papel do Estado, ter assegurados nossos direitos e ainda acreditar na democracia.
OPINIÃO

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