terça-feira, 27 de agosto de 2019

GAZETA SAÚDE: Você já ouviu falar em ortorexia?? Transtorno, típico dos tempos atuais, faz com que a alimentação saudável se torne uma verdadeira obsessão


📷 Foto: Internet  / Reprodução 

Você tem passado mais de duas horas do dia planejando a alimentação? Investiga o cardápio do restaurante antes de sair para comer fora e desiste do programa, caso não encontre uma opção “adequada”? Leva sua própria marmita para a festa? Sente orgulho da sua força de vontade e critica quem não resiste a um pedaço de bolo?
Se as respostas forem “sim”, cuidado, pode ser sinal de ortorexia. O transtorno alimentar que vem aparecendo com mais e mais frequência nos consultórios psiquiátricos. Significa obsessão por comer saudável. “A ortorexia nervosa é uma patologia da contemporaneidade, mas pouco explorada, com menos estudos desenvolvidos do que a anorexia e a bulimia. Aqui, não há muita preocupação com o peso ou as calorias ingeridas, mas sim uma busca pela alimentação pura”, define o psiquiatra Bruno Palazzo Nazar, professor da Pós-Graduação da UFRJ, especialista em transtornos alimentares. 
Além de carregar sintomas como isolamento na vida social e sentimento de superioridade, os ortoréxicos costumam investir tempo na leitura de rótulos para descobrir a origem de tudo que vão ingerir, conversam muito sobre comida, cortam glúten, lactose, sal, açúcar e gordura do cardápio, são ansiosos, muitas vezes depressivos e se sentem extremamente culpados se obrigados a sair do script.
Eu não comia nada que considerasse minimamente ‘impuro’”, conta Ciça. 📷 Foto: Reprodução.
A publicitária Ciça Campos, de 27 anos, chegou a chorar quando descobriu que a omelete feita especialmente para ela em uma noite de pizza com amigos tinha se misturado na frigideira com manteiga, e não óleo de coco. Ciça começou a desenvolver o transtorno cinco anos atrás. Recém-formada e vendo todas as amigas conseguirem emprego, menos ela, se jogou numa vida fitness com dieta bem restritiva, para “ganhar reconhecimento”. “Era a época em que as blogueiras fitness estavam superaparecendo, redes sociais exibindo corpos lindos e dietas mirabolantes. Fui a uma nutricionista dessas que medem tudo: percentual de gordura, água, músculos... Comecei a emagrecer, postava fotos de biquíni, recebia muitos elogios. O que só estimula quem está completamente neurótica. Eu não comia nada que considerasse minimamente ‘impuro’”, conta.
Triste e sem emprego, a publicitária procurou um psiquiatra para tratar uma possível depressão e acabou descobrindo a doença de nome esquisito, de que nunca tinha ouvido falar. Iniciou, então, um tratamento de três anos, incluindo, além do psiquiatra, psicóloga para sessões individual e familiar e uma nutricionista comportamental (especialista que não apenas ajuda com a nova dieta, mas motiva a mudança de hábitos). “O tratamento é mesmo multidisciplinar, com vários profissionais envolvidos”, endossa o médico Bruno Nazar. “É ideal ainda o acompanhamento de um clínico geral para checar os níveis hormonais, a saúde óssea e dos órgãos reprodutivos, que podem acabar afetados.” 
A doença foi descrita de maneira inédita pelo médico americano Steven Bratman em 1997, com sintomas comuns entre seus pacientes — a crença de que determinados alimentos seriam capazes de causar, prevenir ou tratar enfermidades e, por isso, a razão de seguir um regime rígido. Nasceu então o termo ortorexia, junção das palavras gregas “orexsis” (apetite) e “orthós” (correto).
Saúde
Especialistas concordam que as dietas inflexíveis atuais, tão em alta, combinadas a redes sociais que exaltam a felicidade de uma vida saudável radical, têm produzido resultados desastrosos para a saúde física e mental da população. Coordenadora de Nutrição da Clínica de Estudos e Tratamento em Transtornos Alimentares e Obesidade (Cettao), da Santa Casa, Fabia de Campos vai direto ao ponto: “Há muito marketing por trás dessas dietas. Não precisa comer brigadeiro de biomassa de banana-verde. Brigadeiro é para ser gostoso, não é para ser saudável. Tudo bem comer numa festa, doce não é para o dia a dia! E não precisa fazer seu próprio kombuchá e kefir se for virar escrava dessa rotina.”
O Globo

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