O
mercado é formado por parcerias em Lages e em Balneário Camboriú e há dois anos
os são exportados para Ibiza, na Espanha. Até setembro será consolidada
parceria para entrada em Nova Iorque
Qual
mulher nunca sonhou em desfilar pelas ruas com sapatos lindos e exclusivos, com
a certeza de que não verá mais ninguém com o mesmo look nos pés? Com esse
pensamento, a empresária Brianna Betina Pelegrini, 28 anos, decidiu ousar. A
série de reportagens “Lages, um bom negócio” conta a história da empresa Santíssima
Catarina Sapatos, Artigos de Couro e Ateliê de Peças Exclusivas e Sob Medida,
sediada no bairro São Cristóvão há quatro meses, e existente há três anos. O
nome e a coroa da logomarca é uma mistura de valorização do Estado com
homenagem à arte sacra de Catarina de Alexandria, santa e mártir cristã, uma
notável intelectual no início do século IV, morta ao ser decapitada.
Brianna,
engenheira ambiental formada pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em
Balneário Camboriú, comemora os resultados que, embora pareçam repentinos, são
frutos de um trabalho árduo, iniciado no Programa Empreender Lages, da
prefeitura, que concede incentivos fiscais para as empresas recém-formalizadas,
proporcionando que invistam os recursos economizados com despesas burocráticas
e tributárias, alçando voos e conquistando autonomia. Há seis meses a
Santíssima Catarina adquiriu a empresa Josi Uniformes Profissionais e Escolares
e Vestuário Social, que funciona no segundo andar do mesmo prédio, famosa na
cidade e em atividade há 12 anos.
O
princípio
Da
sociedade fazem parte Brianna e sua mãe Rosângela Cordeiro. “Tudo aconteceu por
acaso. Minha mãe teve formação acadêmica na área de pedagogia e seguiu
carreira. E eu abri uma empresa com um colega em Florianópolis, porém, ele sofreu
um acidente e as coisas começaram a andar devagar. No começo eu queria fazer
coleções de vestuário”, recorda a empresária. Começava aí, mesmo sem Brianna
prever, um divisor de águas na sua vida.
Sua mãe
confeccionou a primeira alpargata gaúcha estilizada a partir de um calçado
original com aplicações de tecido, com paetês brancos de um vestido da própria
Brianna. “Ela forrou a alpargatinha aberta, que nominamos de ‘Encantada’. Temos
ela até hoje e iremos emoldurá-la. Minha mãe veio para Lages, e eu também, de
Balneário, onde morei por dez anos. Ela me mostrou o que havia feito. Sempre
gostei de coisas diferentes e comecei a usá-la em Balneário. Chamava a atenção
de todo mundo. Fui numa festa numa boate com a alpargata combinando com um
vestido tubinho. É uma boate frequentada por meninas de Florianópolis,
Curitiba, São Paulo, com poder aquisitivo maior. Elas ficaram loucas e me
imploraram por alpargatas estilizadas”, relembra.
Chegou ao
ponto de, numa festa de família em Lages, ela ter dez peças vendidas de algo
que nem produzia ainda. Aí, mãe e filha decidiram terceirizar a produção com a
Joelma Artigos Gauchescos, na avenida Marechal Floriano. “Eu criava o design e
eles faziam tudo o que eu não conseguia. Aprendi a cortar, colar, fazer
palmilha, montar a peça. Eu fazia 50 peças e em uma semana vendia tudo em
Balneário Camboriú. A produção foi crescendo rápido. Foi aí que eu vi que
renderia dinheiro e a luz do empreendedorismo acendeu”, explica. A mãe da
empresária investiu na estrutura da loja do parceiro e adquiriu três máquinas.
Inspirando Brianna, além de outras, estão produções australianas de calçados.
Hoje, com a Josi, são 16 funcionários – seis da Santíssima.
Mais
de dois mil pares feitos
Focada na
produção de inverno, a Santíssima Catarina está produzindo botas, o que
significa ser um produto mais demorado para ser confeccionado por conta da sua
complexidade na elaboração. Com a capacidade de produção máxima a vapor, são
fabricadas em torno de 250, mensalmente, sendo que o prazo de entrega é de 30
dias. E nas estações quentes dobra-se o número de peças (alpargatas) feitas.
Mais de dois mil pares já foram fabricados em três anos. “Hoje fazemos dez
peças por dia, saindo 50 por semana. São calçados exclusivos, nenhuma peça é
igual à outra, não há produção em série, desde a palmilha, cadarços,
etiquetas”, garante.
As
matérias-primas são o couro, sisal - acabamento de fibra natural, lã, tecidos
de estampas diversas como o jeans, renda, algodão, paetê. Com exceção da
costura, o restante do processo, altamente complexo e a partir de células de
etapas fabris, é feito à mão. “Pouquíssimas coisas compramos aqui na cidade
pelo valor agregado, pois não é polo. Quase a totalidade dos produtos vem de
Novo Hamburgo (RS), como os calçados e o couro. Outros vêm de São Paulo”,
informa. A empresa fabrica ainda jaquetas e bolsas de couro.
Ibiza
e Nova Iorque
O mercado
é formado por parcerias em Lages e em Balneário Camboriú e há dois anos os
produtos Santíssima Catarina são exportados para Ibiza, na Espanha, com
comercialização por uma brasileira proprietária de loja. Até setembro será
consolidada parceria com uma catarinense em Nova Iorque, com apoio da Federação
das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), iniciativa em que estão
sendo levadas marcas brasileiras para os Estados Unidos. As peças são
distribuídas para lojas e boutiques que trabalham com produtos exclusivos.
Em Lages é
possível encontrar calçados da marca nas lojas Mezzalira Mix, Zoogy Moda
Infantil e Juvenil, Pitanga, Magnólia e a própria Santíssima Catarina, onde
podem ser escolhidas e compradas opções prontas, assim como serem feitas
encomendas personalizadas. Em Balneário são encontrados na La Boutique e em
Ibiza, na La Ibiza.
As
alpargatas da Santíssima foram usadas por uma atriz da Rede Globo, Polliana
Aleixo, que interpretou Bárbara, da novela “Em Família”, em julho de 2014. “A
mãe dela nos viu no Instagram - as redes sociais são o nosso marketing - e a
atriz estava indo para o Castelo de Caras, no Valle Nevado, em Santiago do
Chile, participar da festa de encerramento da novela. Ela nos contatou,
produzimos uma peça e enviamos para o Rio de Janeiro. Ela saiu na Revista Caras
usando uma bota Santíssima Catarina”, conta.
Site
3D com simulador de peças
Está em
fase de finalização o site em três dimensões da Santíssima, com simulador das
peças, possibilitando a montagem personalizada de calçados, com conforto,
comodidade e segurança às clientes, sendo que as peças serão entregues em casa.
O endereço é www.santissimacatarina.com.br.
A curiosidade pode ser aguçada no perfil da Santíssima Catarina no Facebook ou
no Instagram.
Empresa
já deixou de ser MEI
O Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da empresa foi feito três anos atrás, no
Programa Empreender Lages, quando os negócios foram formalizados. “Fomos
ascendendo e visitavam-nos em casa para prestar consultoria. Fomos beneficiados
também com o Programa Juro Zero, do Banco da Família. Deixamos de ser
Microempreendedor Individual (MEI) a partir do momento em que crescemos
enquanto empresa. Em um ano seguimos para o Empreendedor Individual e hoje
somos Microempresa (ME). As consultorias são muito importantes porque não
tínhamos nenhuma formação administrativa”, relata.
Pilares
verdes e sociais
A
Santíssima Catarina, preocupada com o meio ambiente, não produz resíduos
prejudiciais. “Não geramos resíduos de plástico; os secos são enviados à Alpa;
as latas de produtos químicos serão transformadas em floreiras”, revela. As
embalagens fabricadas para carregar os calçados são cabides para demonstração
ou usados como suportes para condicionamento, ou sacolas de papel reciclado
comprado da cooperativa do bairro Guarujá, com design moderno e toques
femininos de sutileza em seus cadarços em neon e peles de couro. “Além de ser
uma empresa sustentável, trabalhamos o papel social, promovendo rifas de
calçados que custariam R$ 300,00 o par, e alavancamos R$ 1 mil, R$ 2 mil para
ajudar pessoas. Definimos que a cada dois meses doaremos uma peça para ações
sociais”, ressalta Brianna.
Exemplo
O
secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda, Juliano Chiodelli, e
a agente administrativo Laiara Hoepers, visitaram a empresa na sexta-feira (8).
“É um exemplo o trabalho da Santíssima Catarina: produzir material de
qualidade, agregar valor à peça artesanal, alimentar alicerces ambientais e
sociais, manter e disseminar valores sólidos. Conseguiu encontrar seu espaço
num segmento inovador, uma empresa internacional com carreira inicial”, diz o
secretário. “A administração municipal parabeniza a empreendedora por acreditar
em sua terra natal. Esperamos que este seja o início de uma carreira de vida
longa, com horizonte longínquo”, analisa Juliano.
Brianna é
vice-presidente do Núcleo de Moda da Associação Empresarial de Lages (Acil).
Recentemente o secretário proferiu palestra no Centro Universitário Unifacvest
e utilizou a Santíssima Catarina como exemplo. Segundo dados do Empreender,
mais de 200 empresas migraram da modalidade MEI para novas modalidades da
Receita Federal no período do último ano.
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