Mais de um ano após o fechamento de bares e restaurantes em Manhattan por causa da pandemia de covid-19, muitos estabelecimentos ainda continuam fechando as portas. Segundo a associação dos restaurantes do Estado de Nova York, a NYSRA, com as medidas para conter a covid-19, os empresários que não decretaram falência ainda não recuperaram nem 30% do lucro perdido no período.
Pelo cálculo da associação, pelo menos mil restaurantes fecharam desde março de 2020 devido à desaceleração econômica. Especialistas afirmam que não é fácil saber o número exato de restaurantes que fecharam e que provavelmente essa avaliação levará anos para ser concluída. “Apesar dos esforços de recuperação e reabertura, a indústria de restaurantes continua lutando. Os efeitos do ano passado, sem dúvida, terão um impacto duradouro, e ainda continuamos a ouvir as dificuldades que os donos de restaurantes na cidade estão enfrentando”, disse Melissa Fleischut, presidente e CEO da NYSRA.
Na Times Square, por causa da baixa no turismo, lojinhas de souvenirs faliram e até um icônico restaurante de uma rede famosa de fast food também fechou. Em Tribeca, bairro tradicional da cidade, onde é possível achar variados restaurantes internacionais e celebridades circulam com frequência, é perceptível o impacto da pandemia. O Restaurante Racines, conhecido pelos pratos com frutos do mar e vinho de boa qualidade, era um dos destinos mais populares por lá, mas infelizmente teve de fechar as portas no último dia 30 de julho. No mesmo bloco do Racines, três outros restaurantes fecharam, inclusive o Sophies Cuban, no mercado há 22 anos. Ao lado, apenas uma lotérica resistiu ao impacto do lockdown.
Os restaurantes que tinham espaço na calçada para expandir a capacidade e receber os clientes ao ar livre conseguiram, mesmo aos trancos e barrancos, sobreviver. Istvan Nagy, dono do restaurante Side Door, no centro de Manhattan, se desdobrou para manter o estabelecimento aberto. Ele diz que as vendas atuais não representam nem um terço do que foi perdido. E revela apreensivo que o futuro ainda é incerto e devastador caso não haja um apoio financeiro dos governos estadual e federal.
“O Governo tentou ajudar, mas o dinheiro não foi suficiente para nós. Não cobre tudo que a gente precisa. A gente teve que baixar o salário das pessoas que ficaram conosco, mas eu dei comida para eles levarem para casa todos os dias. E os vizinhos nos ajudaram bastante a passar por essa situação”, relembra. “Estamos voltando ao normal, mas bem lentamente.”
Istvan recorda que, quando fechou o restaurante, as vendas caíram 40%. Ele só conseguiu manter o negócio funcionando porque demitiu os funcionários do atendimento e fez um acordo para reduzir o salário do pessoal da cozinha. Afinal, as entregas ainda estavam funcionando e também tinha o “take out”, sistema em que a pessoa liga, faz o pedido e vai buscar a comida pessoalmente.
Durante todos esses meses, os restaurantes que restaram associam a sobrevivência também ao fato de terem conseguido permissão para vender bebidas para viagem, o que os nova iorquinos chamam de "alcohol to go”, coisa que nunca aconteceu na história da cidade.
“Vendia bebida para viagem, ajudava nas contas, mas não dava para pagar o aluguel. Vendi comida para viagem, mas nunca vai pagar as contas. Você faz o que pode”, diz Istvan.
Retomada
A indústria dos bares e restaurantes precisa se recuperar e ter estabilidade mais do que nunca, afirma Melissa Fleischut, CEO da associação dos restaurantes de Nova York. Uma pesquisa feita pela organização apontou que, no último ano, as vendas de restaurantes caíram 44% no Estado. O levantamento também mostra que os proprietários estão pouco otimistas em relação ao aumento de vendas e melhoria no setor.
Na vizinha Newark, cidade conhecida pela quantidade de brasileiros entre os moradores, a situação foi parecida. Vários estabelecimentos fecharam, milhares de pessoas foram demitidas e muita gente sofreu com a baixa nas vendas. Por causa das medidas de combate ao coronavírus, desde março de 2020 vários restaurantes fecharam, aumentando o desemprego na região.
Arthur Moreira, dono de três restaurantes na cidade, diz que o lockdown foi catastrófico e assustador, e o custo foi muito alto causando um enfraquecimento enorme para os seus negócios. “Quando o lockdown veio, eu tinha entre 70 a 80 funcionários e três restaurantes. E tive que fechar dois, deixar apenas um aberto. As vendas caíram 95%. A gente não sabia para onde correr e o medo foi assustador.”
O empresário conta que o prejuízo foi enorme. Somando os três restaurantes que ele tem, foi uma perda de 25 mil dólares por semana. Ele conta também que o medo de um novo lockdown é real. E revela ainda que o setor está sofrendo com a falta de mão de obra especializada. “Só eu sei o que a gente passou. Hoje não tenho mão de obra especializada porque esses funcionários foram embora. A covid veio para mudar o nosso estilo de vida, mas deixou muitas sequelas. Se a gente enfraquece, não temos como dar trabalho a essas pessoas”, lamenta Moreira.
Ele diz que o lockdown não funcionou para ele e que os estabelecimentos comerciais não deveriam ter sido fechados. “Os funcionários que ficaram em casa pegaram o vírus. E quem estava trabalhando não pegou. Enquanto eu estava trabalhando, não peguei o coronavírus. Quando entrei de férias e viajei, peguei. O lockdown não funcionou para a gente.”
Cronologia da crise
Várias mudanças foram feitas desde o início da pandemia. Em Nova York, os restaurantes fecharam em 16 de março de 2020. Em junho, foi concedido o atendimento ao ar livre, permitindo que os estabelecimentos colocassem mesas nas calçadas para receber os clientes.
Em setembro, veio a autorização para o atendimento dentro dos restaurantes, mas apenas com 25% da capacidade. Mesmo assim, isso durou só até dezembro, quando a proibição entrou em vigor novamente com duração até fevereiro desse ano.
Os restaurantes reabriram novamente com 25% da capacidade. Um mês depois o percentual dobrou. E finalmente, em maio, os donos puderam respirar aliviados com a liberação para atender com total capacidade.
Em junho, o então governador de Nova York, Andrew Cuomo, retirou todas as medidas, incluindo restrições na capacidade, distanciamento social e uso de máscara para pessoas vacinadas, já que 70% da população estava imunizada.
R7
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